Chico Chiclete e as sensações diante do desconhecido
... ou como encarar o primeiro dia de aula na escola nova
Há seis anos eu tomei coragem e coloquei no mundo um projeto, o Primeiras Leituras. Minha ideia era dividir com outras famílias os prazeres da leitura compartilhada com bebês e crianças. Sim, bebês leem e posso provar!
Nas rodas de leitura realizadas em diversos espaços, vivo desde então muitas histórias, descobertas, aprendizados, alumbramentos e parcerias. Atualmente, temos encontros mensais na Biblioteca Hans Christian Andersen. O próximo será dia 23 de março, às 11h30
Como uma criança que chega ao primeiro ano na escola, senti que o Primeiras Leituras (eu também!) está pronto para alçar novos voos e desbravar outros caminhos. Então, venho te apresentar o primeiro voo de 2024: esta newsletter.
Aqui vou compartilhar com você conteúdos sobre livros para as infâncias em curso e as que nos habitam, afinal todos já fomos crianças um dia. E acredite, é muito bom manter a nossa criança interior desperta!
Além das obras literárias, vou falar também de outras coisas que forem se somando ao longo da jornada, pois os livros são como grandes amigos, que nos trazem respostas para perguntas que nem sabíamos que eram preciso ser feitas.
O livro do mês
“Chico Chiclete”, de María Ramos, traduzido por Nina Rizzi (Baião)
Chico está com um pouco de medo. Hoje é o primeiro dia de aula na escola nova... O que as outras crianças vão pensar dele? Será que vão achar que ele é grudento? Ou vão querer que fique coladinho? Tudo que Chico não quer é se sentir sozinho.
Para conhecer a autora, María Ramos, e a tradutora, Nina Rizzi.
Um marco na infância, a ida para a escola apresenta às crianças novos jeitos de ser e estar no mundo, tudo junto e misturado. Imagine as sensações que o primeiro dia de aula pode trazer? Você se lembra dos seus primeiros dias nas escolas pelas quais passou?
Ansiedade, medo, dúvida fazem parte desse momento. E não é só para as crianças, não! As mães têm suas expectativas e os educadores também sobre o temido ou aguardado começo das aulas. Todos com o desejo de que seja agradável.
No livro, vivemos junto com o Chico Chiclete a expectativa e angústia do seu primeiro dia na escola nova. Ele tinha medo de que as outras crianças não quisessem brincar com ele, porque ele é muito diferente.
María Ramos, com ilustrações de traços simples e cores que vibram como a infância, nos convida a pensar se não é na diferença que mora a riqueza da escola. E quem é que não gosta de chiclete, Chico?
Do que você sente medo quando está a caminho do desconhecido?
Para nós, adultos, o primeiro dia na escola já passou faz tempo. Mas são muitos os primeiros dias que vivemos. Será que, no fundo, não sentimos o mesmo que o Chico Chiclete?
Quando nos tornamos mães e pais, revivemos esses primeiros dias e as tantas descobertas que vêm junto. Pode ser desafiador, mas também é gostoso demais!
Nessas horas, a literatura para a infância pode ser nossa grande aliada. Eu sempre conto com ela. Tem um montão de livros que ajudam a conversar sobre a adaptação escolar. Deixo três dicas aqui:
Uma história puxa outra



Eloísa e os bichos, de Jairo Buitrago e Rafael Yockteng (Pulo do Gato)
Nem sonhando!, de Beatrice Alemagna (Companhia das Letrinhas)
O primeiro dia de Chu na escola, de Neil Gaiman e Adam Rex (Rocco)
Para esticar a prosa
Como neste mês o assunto é escola, trago um tema para a conversa: o Slam de Poesias Interescolar de São Paulo, que ano passado contou com 330 colégios públicos e privados de todo o estado na competição. Escrevi uma reportagem sobre essa batalha de poemas para o Portal Lunetas. Entre as fontes com quem conversei, a bicampeã estadual e campeã nacional Nicole Amaral, que hoje é uma das poetas-formadoras, responsável por treinar os estudantes que disputam representando suas escolas. Foi com este poema aqui que ela ganhou seu primeiro título:
Durante nosso papo, descobri que ela estudou na mesma escola em que eu fiz a primeira e segunda séries (na minha época era assim que chamava, há muuuuitos anos, rs)! E olha eu, de novo, falando de começos na escola. Enquanto conversávamos, lembrei da cor do chão, das escadas largas, do gosto do lanche e da minha letra no caderno encapado com contact verde.
A Nicole me contou que foi muito impactante voltar à escola que defendeu como poeta, agora como formadora, e olhar cada um daqueles estudantes. Ela já havia sentido o mesmo que eles. Já pensou uma adolescente subir no palco de um teatro lotado e recitar um poema autoral? Como você se sentiria nessa situação?
Agora podia mostrar caminhos aos estudantes, encorajá-los.
Achei tão grandioso isso.
Todas as experiências na escola nos moldam para a vida.
Vamos cuidar dos começos? Para que os caminhos sejam bem pavimentados, desde a infância.